terça-feira, 13 de novembro de 2007

InterfaceFlor: Inspirar as pessoas

Inspirar as pessoas é o melhor caminho para a gestão sustentável, diz Claude Ouimet

Em 1994, a InterfaceFlor, uma das maiores fabricantes de carpetes em placa do mundo, com plantas nos Estados Unidos e no Canadá, decidiu mudar sua maneira de fazer negócios. Sensibilizado com as questões ambientais, seu presidente, Ray Anderson, implementou na empresa um processo de gestão sustentável que se tornou um ícone da sustentabilidade. A empresa alterou sua forma de produção e passou a cuidar de todo o ciclo de vida de seus produtos.

Essa história é contada pelo próprio Ray Anderson no documentário The Corporation, produzido por Jennifer Abbott e Mark Achbar, com base no livro homônimo de Joel Bakan. No filme, que mostra crimes ambientais cometidos pelas multinacionais e analisa a relação das corporações com o meio ambiente, Anderson fala dos motivos que o fizeram repensar a maneira como conduzia as atividades da empresa. Trechos de The Corporation foram apresentados durante um encontro com Claude Ouimet, vice-presidente da InterfaceFlor para a América Latina e Canadá, que o Instituto Ethos realizou no dia 1º. de novembro, em sua sede, em São Paulo, para empresas associadas, parceiros e jornalistas.

"Como fazemos isso?", pergunta Claude. "Passamos a trabalhar em função das pessoas, pois sem elas as empresas não existiriam. E entendemos que a empresa deveria realizar suas atividades de forma digna e sem prejudicar a sociedade."

Para saber até que ponto a InterfaceFlor impactava o meio ambiente, foi preciso fazer uma "fotografia" da real situação da empresa. Com as informações em mãos, a organização pôde traçar um plano de ação e estabelecer a ousada meta de se tornar sustentável até 2020.

Uma das soluções encontradas pela empresa para reduzir seus impactos ambientais foi reutilizar ou reciclar os carpetes que produz. A InterfaceFlor conta hoje com pessoas que telefonam para os clientes um certo período após a compra para saber se eles pretendem trocar o carpete. Quando a resposta é positiva, funcionários da InterfaceFlor vão até a casa da pessoa e retiram o produto usado. Em vez de ser jogado no lixo, o carpete velho passa por um processo industrial chamado de peletização, o qual transforma o material em grânulos que podem ser usados novamente como matéria-prima. "Não seria possível usar esse sistema em toda a nossa produção, pois teríamos de conseguir grandes quantidades de grânulos. Mas, hoje, cerca de 10% dos carpetes que produzimos vêm de material reciclado", diz Ouimet.

Outra forma de reduzir impactos foi atuar junto aos fornecedores. A InterfaceFlor passou a observar todas as empresas que faziam parte de sua cadeia de valor, analisar os produtos e serviços fornecidos por cada uma delas e questionar sobre o impacto que eles representavam para o meio ambiente. Com base nesse trabalho, a empresa conseguiu reduzir, de 1995 até hoje, 72% das emissões de gás carbônico, 68% do uso de eletricidade e 95% do consumo de água durante o processo de produção de carpetes na fábrica localizada no Canadá.

O grande desperdício acontecia durante a confecção das estampas dos carpetes. Segundo Ouimet, para fazer os decalques em cada metro quadrado de carpete eram necessários 55 galões de água. "Sendo a água um recurso natural tão importante, por que gastar tanta água para estampar um carpete?", questionava ele. "Ora, as estampas não faziam nenhuma diferença no desempenho do produto. Então decidimos eliminá-las."

A redução do consumo foi tão grande que, no início dos novos procedimentos, a companhia responsável pelo fornecimento de água da cidade alertou a fábrica para um possível defeito no medidor. "Pensaram que havia alguma coisa errada, pois o medidor passou a registrar apenas um terço do total de água que estávamos acostumávamos a usar."

O mesmo aconteceu com o consumo de energia. Hoje, toda a energia usada pela InterfaceFlor passou a ser renovável. Essa decisão demandou um alto investimento inicial, mas o retorno valeu a pena. Calcula-se que nos últimos treze anos a empresa tenha economizado US$ 335 milhões. "Ao eliminar tudo que está sendo desperdiçado, é possível perceber onde a empresa pode ganhar dinheiro", afirma Ouimet.

Outro ganho veio com a mudança na composição da cola usada para fixar o carpete. A empresa eliminou todos os produtos tóxicos usados em sua fabricação. Essa decisão permitiu que a empresa não apenas economizasse a energia empregada no processamento desse material, mas também deixasse de gastar com a obtenção das certificações exigidas pelos governos americano e canadense para uso de tais produtos.

Gravata para quê?

Certa vez, durante um evento no qual todos estavam vestidos formalmente, Paul Hawken, ambientalista, empresário e autor de várias obras sobre sustentabilidade, perguntou a Claude Ouimet se ele sabia qual era o impacto ambiental da sua gravata.

"Certamente eu não sabia responder", conta Claude. "Então Hawken me falou sobre todos os recursos naturais despendidos no processo de produção do poliéster, material mais comumente usado para fazer gravatas. Eu me senti ridículo e desde então não uso mais gravatas", confessa.

Essa é uma das histórias contadas por Ouimet para exemplificar que as pessoas precisam ter consciência dos impactos ambientais dos produtos que elas normalmente usam. "A sociedade precisa questionar-se sobre os processos de produção adotados pelas empresas. É preciso perguntar se vale a pena usar tantos recursos naturais para fabricar determinado produto", explica. "Temos de entender que, na verdade, o que precisamos é apenas de amor e carinho. O resto podemos dizer que seria legal se tivéssemos, mas é preciso reconhecer que muitas coisas do nosso dia-a-dia não são essenciais."

Segundo Ouimet, uma forma de avaliar o impacto dos produtos sobre o meio ambiente é pedir às empresas que passem a oferecer informações sobre o ciclo de vida de tudo aquilo que colocam no mercado para vender. "Ainda não possuímos mecanismos para comparar os produtos nesse aspecto. Mas acredito que essa seja a grande saída para um mundo melhor", afirma.

Gestão inspiradora

Embora o processo de medir impactos seja muito importante, Ouimet está convencido de que, para obter resultados positivos numa gestão sustentável, é preciso haver inspiração. "Se você realmente quer que as coisas aconteçam de outra forma, é preciso inspirar as pessoas. Ninguém tem a fórmula da gestão socialmente responsável. E mesmo que tivesse não poderia envolver as pessoas nesse movimento sem mostrar o propósito de tudo isso", explica. "O que quero dizer é que posso conceber todas as fórmulas do mundo e empregar todo o meu conhecimento, mas nunca farei grandes mudanças se não for capaz de inspirar as pessoas."

A coletividade também deve ser vista pela empresa como uma peça fundamental para o avanço das boas práticas. Quando pensamos de forma coletiva, diz ele, passamos a ver coisas que não enxergávamos antes. "É preciso que cada pessoa use seu talento para encontrar soluções para os problemas com perspectivas diferentes. Se eu sonhar sozinho, tudo será apenas um sonho. Mas, se tivermos um sonho coletivo, estaremos começando uma nova realidade."

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